Nesta quinta-feira (5), a Associação Brasileira de Soluções de Armazenamento de Energia (ABSAE) apresentou, em São Paulo, o 1º Painel Brasileiro do Armazenamento de Energia, com o lançamento da revista ‘Insights ABSAE’. A publicação traz uma visão aprofundada sobre o mercado nacional e internacional de armazenamento de energia, explorando tecnologias, desafios regulatórios e cases de sucesso. Acesse a Revista aqui.
O mercado de armazenamento de energia no Brasil está em um momento estratégico, marcado por avanços tecnológicos, regulamentações emergentes e um potencial significativo para transformar o setor elétrico nacional. A revista Insights ABSAE aponta que os sistemas de armazenamento por baterias (BESS) têm desempenhado um papel essencial na modernização da matriz energética e na promoção de um sistema mais flexível, eficiente e sustentável.
Durante o evento, o presidente da ABSAE, Markus Vlasits, ressaltou que o “armazenamento de energia contribui muito para tornar o setor elétrico mais moderno, mais resiliente, mais flexível e é exatamente isso que a gente precisa”.
“A gente testemunha hoje uma transformação profunda do setor elétrico brasileiro. Tem o crescimento da geração distribuída, o crescimento das novas fontes renováveis não despacháveis e isso muda substancialmente a maneira como esse setor precisa ser operado. Uma das palavras chaves que a gente sempre escuta nos nossos debates é "flexibilidade". O setor elétrico precisa de mais flexibilidade e certamente o armazenamento, ainda mais o armazenamento em baterias, traz exatamente isso. Ao mesmo tempo falamos da necessidade da descarbonização da matriz elétrica na Amazônia, que hoje ainda depende em larga escala do óleo diesel, do gás natural. O armazenamento de energia entra como uma tecnologia para essa descarbonização”, afirmou.
Desde 2016, o Brasil vem implementando projetos com sistemas de armazenamento, incluindo iniciativas de grande porte, como os 30 MW de potência instalados pela ISA Energia. Esses projetos ilustram como o BESS pode contribuir para enfrentar problemas recorrentes no Sistema Interligado Nacional (SIN), como o vertimento de energia de fontes solares e eólicas devido a restrições operacionais e a possibilidade de déficit de potência na ponta noturna.
Apesar de ser uma realidade, o setor de armazenamento ainda enfrenta desafios importantes no Brasil. A ausência de um marco regulatório claro e a elevada carga tributária sobre equipamentos são barreiras que dificultam a expansão do setor. Mesmo diante desse cenário, especialistas da Insights ABSAE apontam para um futuro promissor, impulsionado pela queda nos custos das baterias e pelo crescente interesse por soluções que promovam sustentabilidade e autonomia energética.
Durante a apresentação do painel, Marcelo Rodrigues, conselheiro da ABSAE e vice-presidente de novos negócios e inovação da UCB Power, observou que “ninguém tá pedindo subsídio, mas uma simetria tributária”.
“Então essa é uma das pautas que a ABSAE vai trabalhar fortemente para o ano que vem. Temos uma carga tributária elevada para baterias, praticamente similar a artigos de luxo. Alguns mercados estão muito mais maduros do que a gente, mas acho que agora a gente conseguiu romper barreiras importantes. O mundo colocou no ano passado 44 GB de armazenamento, é praticamente a soma do armazenamento nos últimos 10 anos. O Brasil será um mercado muito relevante de armazenamento", declarou.
Casos de sucesso e aplicações estratégicas
Exemplos globais mostram como o armazenamento de energia tem transformado sistemas elétricos. No Reino Unido, baterias são utilizadas para regular a frequência de redes dinâmicas, enquanto no Chile, a arbitragem de preços baseada em sistemas de armazenamento auxilia na estabilização de um sistema elétrico altamente dependente de energia solar.
No Brasil, o agronegócio surge como uma área estratégica para o uso de BESS. Em regiões remotas, sem acesso à infraestrutura elétrica tradicional, os sistemas de armazenamento, associados à energia solar, têm possibilitado a autonomia energética e a redução de custos, especialmente em operações de irrigação. Esses sistemas também têm mostrado eficiência em aplicações comerciais, industriais e residenciais, permitindo a redução de custos por meio de práticas como peak shaving (controle do consumo em horários de pico) e autoconsumo local.
Ricardo Estefano, integrante do Conselho de Administração da ABSAE e Gerente Global de Vendas de BESS da WEG, destacou que “a bateria não é uma solução que vem para substituir tecnologias existentes, é mais uma ferramenta, um complemento”.
“Na WEG a gente sempre faz a analogia de que a bateria, por ter muita funcionalidade, é um canivete suíço. Então chegamos a feliz conclusão de que o BESS é o canivete suíço do cinto do Batman. Ou seja, o Operador Nacional vai ter a disposição uma ferramenta que vai resolver diversos problemas. A bateria vai viabilizar a inserção maciça de renováveis, a continuidade da expansão das renováveis resolvendo inversão de fluxo, problema na transmissão, na distribuição, no residencial do consumidor final, na indústria que queima óleo para poder deslocar o horário de ponta, ou seja, tem a questão da descarbonização muito forte, penetração de renováveis em sistemas isolados da Amazônia. É o canivete suíço mesmo”, disse.
Impactos
O impacto positivo do armazenamento de energia vai além da economia. Na Amazônia, onde cerca de 54 mil sistemas de armazenamento já estão em operação, com capacidade total de 270 MW, esses dispositivos têm substituído geradores a diesel, reduzindo emissões e promovendo o uso de energias renováveis. Com a instalação de 212 mil novos sistemas projetados, a capacidade pode ultrapassar 1 GW, levando eletricidade limpa e confiável para comunidades isoladas, muitas das quais ainda dependem de combustíveis fósseis.
Com a realização do primeiro leilão para contratação de baterias em 2025, a avaliação da ABSAE é de que o Brasil dá um passo decisivo para impulsionar o setor. A combinação de incentivos públicos, avanços tecnológicos e maior integração entre governo e setor privado poderá consolidar o país como líder regional em armazenamento de energia.
O cenário descrito pela revista Insights ABSAE destaca não apenas os desafios, mas também as grandes oportunidades. O mercado de armazenamento está se tornando um pilar essencial na transição energética brasileira, com potencial para descarbonizar a matriz elétrica, aumentar a segurança energética e democratizar o acesso à energia sustentável. O momento é de ação e investimento estratégico para transformar a energia armazenada em motor de desenvolvimento.
Jantar
Junto com o lançamento da revista Insights ABSAE, a associação promoveu nesta quinta-feira (5) um jantar especial em São Paulo que reuniu associados e
lideranças do setor para celebrar os avanços significativos alcançados em 2024 no segmento de armazenamento de energia no Brasil.
Entre os destaques do ano está o lançamento, pelo Ministério de Minas e Energia (MME), da consulta pública para a realização do primeiro leilão dedicado à contratação de baterias para o sistema elétrico, previsto para junho de 2025. Além disso, foi publica no Diário Oficial da União uma portaria e duas resoluções regulamentando os leilões de energia e chamadas públicas voltadas para os Sistemas Isolados (Sisol), iniciativas que prometem fomentar ainda mais o uso de tecnologias de armazenamento no país.
O evento da associação também contou com a presença do Diretor Substituto do Ministério de Minas e Energia, André Perin, e Marcos Penido, Secretário-Executivo de Governo do Estado de São Paulo.
Para o presidente da ABSAE, Markus Vlasits, o momento é um marco para o setor. "O ano de 2024 ficará marcado como um período de avanços significativos para a regulamentação e implementação de soluções de armazenamento no Brasil. A ABSAE tem desempenhado um papel crucial na construção desse cenário, e o jantar de hoje é uma celebração do esforço coletivo de nossos associados e parceiros."
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