Absae é um dos destaques na abertura da EES South America
- ABSAE
- há 7 dias
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A abertura da Electrical Energy Storage da (EES), nesta quarta-feira (27), uma das atrações centrais da The Smarter E South America, marcou o início dos debates sobre o papel estratégico do armazenamento de energia na transição energética brasileira. O evento reuniu especialistas do setor elétrico, reguladores e empresas para discutir os desafios e oportunidades diante da crescente inserção de fontes renováveis na matriz elétrica nacional.
O painel de abertura contou com a presença de importantes nomes do setor, incluindo o diretor da ANEEL, Daniel Danna; Gustavo Pires de Ponte, da EPE; Rodrigo Sauaia, diretor da ABSOLAR; Roberto Brandão, do GESEL; e Markus Vlasits, presidente da ABSAE, que também atuou como mediador da discussão. Durante o encontro, os participantes analisaram as transformações esperadas para a próxima década, especialmente a mudança no perfil de carga do sistema elétrico, com picos mais intensos no final da tarde e uma geração elevada ao meio-dia, devido à expansão da energia solar.
Markus Vlasits destacou que “precisamos dar uma solução àquilo que se chama déficit de potência durante o horário de ponta. E os sistemas de armazenamento de energia são a solução mais adequada e menos onerosa, já que promovem vantagens econômicas e trazem celeridade e modularidade ao sistema”.

Na mesma linha, Gustavo de Ponte, da EPE, ressaltou a importância de avanços normativos para que diferentes soluções possam apoiar o sistema elétrico brasileiro. “Nos próximos anos, teremos variações importantes nas curvas de consumo no Brasil, incorporando desafios de capacidade no fim do dia, custos e flexibilidade. Neste quesito, vamos precisar de um sistema que dê conta destas mudanças, considerando hidrelétricas, termelétricas, tecnologias de armazenamento e aprimoramentos regulatórios para destravar o potencial de todos esses sistemas”. O posicionamento foi complementado por Daniel Danna (ANEEL), ao defender regras claras e estáveis, que tragam segurança jurídica e estimulem investimentos no setor.
Roberto Brandão, do GESEL, apresentou dados iniciais de um estudo que revisa o cálculo do valor das baterias e compara o papel do armazenamento em relação às termelétricas. Ele explicou que “as baterias são estratégicas em um sistema com fontes não controláveis, uma vez que elas têm lastro de energia e o sistema consegue atender com mais carga, o que não seria verdade em sistemas térmicos”. Brandão destacou, no entanto, a necessidade de aprofundar os estudos e reforçar o planejamento da expansão do setor.

Armazenamento como pilar da transição
Ao longo do dia, diferentes especialistas reforçaram a visão de que as baterias já se consolidam como um pilar central da modernização da matriz elétrica brasileira e que experiências bem-sucedidas começam a se multiplicar no país.
No painel da tarde da EES, “A Nova Fronteira da Distribuição: Armazenamento para Alívio de Redes e Confiabilidade Local”, foram apresentados estudos que mostram como o armazenamento ajuda a reduzir os cortes de fornecimento (curtailment). Guilherme Susteras demonstrou que, com a instalação de baterias — seja em bancos independentes ou em sistemas integrados à geração distribuída — a redução dos cortes pode alcançar até 69%. Apesar disso, o modelo regulatório atual ainda não garante a viabilidade econômica dessas soluções.
Por outro lado, algumas experiências práticas já comprovam os benefícios da tecnologia. Sérgio Jacobsen, da Micropower, relatou casos reais de projetos com impacto direto na qualidade da rede e na redução de custos, como a aplicação de sistemas de 10 MWh em operações industriais. Ele alertou que “a violação do limite de estabilidade do sistema é pior do que os cortes de fornecimento. Em 2027 já começaremos essa violação, segundo as projeções. Precisamos buscar uma saída — e as baterias são a solução”.

A experiência internacional também trouxe insights. Michele Reis, da CEMIG, apresentou os resultados positivos dos projetos no estádio do Mineirão e em Serra da Saudade, município que hoje consegue operar até 24 horas apenas com baterias. Outro destaque foi o exemplo da Austrália, onde a introdução do armazenamento tem permitido lidar com picos de demanda de forma mais eficiente.
Encerrando o painel, Adalberto Moreira, da Moura, ressaltou que “toda tecnologia tem seu tempo de maturação, até para consciência do operador. Os casos reais aqui mostrados comprovam a consolidação desta tecnologia para endereçar os desafios. Os grandes parceiros das fontes renováveis são as baterias, e vemos muitos agentes chegando ao Brasil para aproveitar as oportunidades desta indústria no país”.

Desafios regulatórios e oportunidades de mercado
No último painel do dia, representantes do BNDES e do Ministério da Fazenda se uniram a empresas do setor para discutir os caminhos de financiamento. Novamente houve convergência: é urgente avançar em marcos regulatórios e tributários que possibilitem ampliar investimentos e acelerar a cadeia produtiva no Brasil.
Vinicius Berná, da Cela, destacou que o armazenamento é um verdadeiro “canivete suíço”, capaz de atuar tanto como carga quanto como potência, mas que ainda enfrenta entraves para alcançar escala. A visão foi compartilhada por Francisco Maiello, da Brasol, que reforçou: “Temos capacidade tecnológica, os bancos oferecem soluções e opções, mas falta clareza regulatória para dar segurança aos projetos”.
Já Mariana Galhardo, da G2A, evidenciou as oportunidades para o agronegócio, especialmente em regiões sem cobertura plena da rede, e defendeu a importância do Leilão de Reserva de Capacidade como instrumento para viabilizar novos investimentos. Ela também ressaltou que o Brasil já possui empresas aptas a reciclar quase a totalidade dos componentes de um sistema de armazenamento, fortalecendo a sustentabilidade da cadeia.

De reguladores a representantes da indústria, a convergência se manteve: o armazenamento de energia se consolida como grande aliado das renováveis. O setor precisa avançar em financiamento, regulação e planejamento de longo prazo para que os projetos se tornem realidade em escala. Como concluiu Markus Vlasits, presidente da ABSAE: “Prevemos que o mercado de armazenamento de energia tem um grande potencial de crescimento, tanto de serviços para o sistema elétrico como atrás do medidor. Eles apoiam a modernização do sistema elétrico brasileiro”.
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